"O homem é o lobo do homem."
Taí a frase que permeia contos de fadas, fábulas, a História e os pensadores renascentistas e talvez até o jogo econômico...
Mas o homem em sua essência seria assim tão autodestrutivo? Creio que, pela validade quase atemporal dessa máxima, não se pode negar que seja um caráter - ainda que se possa argumentar que não seja comum a todos os homens - praticamente inerente à raça humana.
Mas como não nos depredamos uns aos outros todo o tempo? Como, hoje em dia, mesmo em meio ao consumo de limosines e outros luxos e mortes por fome e miséria, temos uma sociedade muito bem estruturada e autosustentável (pelo menos a médio prazo)?
Hoje pensei sobre isso: sobre a existência da sociedade e as bases de sua edificação.
Lutamos pela liberdade, pelos direitos iguais, pelo fim do preconceito.
Tudo contra a "monstruosa" sociedade, conservadora, segregadora, que marginaliza em meio aos seus conceitos que destroem o livre-arbítrio humano (a começar da religião, talvez o maior bicho-papão dos direitos individuais e da liberdade).
E percebi toda a controvérsia da minha linha de pensamento.
Afinal de contas, não é essa mesma sociedade que nos salva da lei do mais forte, onde valem apenas as leis brutais, naturais, imediatas e destituídas de civilização? Sem valores sociais, os inferiores devem ser banidos a fim de não atrapalharem o todo "ótimo". E não há discussão sobre o que é melhor: apenas se vence a luta para provar isso. Temo o dia em que a luta pelo poder (e o papel central do dinheiro nisso) consiga nos fazer completamente lobos. Já faz em grande parte, é bem verdade. Mas vivemos em sociedade: temos valores, regras de comportamento, noções de ética e costumes arraigados que não nos deixa ser lobo de ninguém sem passar pelo olhar crítico do que Smith talvez chame de Expectador Imparcial. Sim, porque esse valores estão não só na sociedade, mas dentro de nós, frutos dela. E ela nos mantém assim: seres sociáveis.
Depois de tanto espanto diante da lógica contraditória dos valores sociais, percebi que não adianta lutar pela liberdade como se os valores e as regras de comportamento nos prendessem a um mundo aquém do que merecemos. Os valores devem ser aperfeiçoados sempre. Preconceitos devem ser combatidos. Mas vale lembrar que, sem eles, somos lobos. E a selvageria não dá liberdade, igualdade e inclusão a nenhum indivíduo. Até porque, nesse suposto "estado natural", não haveria sociedade. Meu pensamento aqui me parece falacioso e conservador demais até pra mim. OK
Ainda podemos argumentar: e Rousseau e o bom selvagem?
Independente se concordamos com Hobbes ou Rousseau, eu precisaria de anos de argumentos ótimos para discordar do Iluminismo Escocês. Porque, como diriam os iluministas escoceses, não há indivíduo fora da sociedade: o ser humano é naturalmente social.
Liberdade não passa pela negação daquilo que se é, independente da crença.
Então, por mais que lutemos contra valores, eles são parte de nós. E talvez isso não seja destrutivo e os conceitos sociais não sejam assim tão vilões. Embora, é claro, conceitos sejam abstrações por natureza e excludentes por definição, exigindo críticas que façam a ligação entre eles e a realidade.
Valores, sociedade, imposição, criticas.. não adianta se colocar a frente de tudo em tão poucas palavras e sendo tão utopico, afinal uma pessoa não muda conceitos, talvez 100 ou milhões, e vem a "antiga" sociedade e dá um jeito de esmagar senão são as pessoas, são os pensamentos escravizando a mente á ponto de voltarmos a selvageria e ainda sim quando conseguimos vence-los, matam os pensadores, os agentes de mudanças e os transformam em lendas onde "serão lembrados" para sempre, o que nao contam que a historia toda, termina no exato momento que glorificam o(s) responsavel(is) e continua tudo como estava....
ResponderExcluirSim. O problema de toda análise é esse: por mais que tentemos incorporar as críticas, deixamos algum ponto de lado. É a velha parábola do rei que queria um mapa tão detalhado quanto o reino dele, e não podia abrir o mapa sem que ele ficasse exatamente do tamanho do reino. E a memória curta não só do brasileiro, mas do ser humano! ^_^
ResponderExcluirConcordo que realmente nascemos p/ viver em sociedade, o ser humano tende a viver em grupo e se organizar em sociedade naturalmente mesmo (acho). Mas não acho que é isso que o impede de ser selvagem, ou de ser lobo de si. Existe vários tipos de animais que também vivem em conjunto e continuam sendo considerados animais selvagens. Se o homem é naturalmente bom ou mau, ou se se torna com a vida eu não sei...
ResponderExcluirCom relação a termos valores dentro de nós, não acho que isso possa ser dito. Também não sei se entendi o que você quis dizer, mas deve ser no mínimo discutível. Como você pode saber que tais valores não lhe foram ensinados pelo meio em que viveu? Como pode ter certeza que nasceu com os mesmos? Como explicar uma pessoa de outra cultura que possui valores completamente diferentes dos seus?
Acredito que a gente é mais fruto do meio do que imaginamos, de tal forma que fica realmente difícil distinguir entre características intrínsecas a nós mesmos e a nossa existência dos atributos adquiridos durante a nossa vida, que nos foi silenciosamente ensinados pelo meio em que vivemos sem que pudéssemos se quer nos dar conta disso.
Moral, ética, valores, etc. É muito difícil falar de tudo isso sem ser de forma subjetiva. Não consigo ver tais idéias como independente de uma sociedade, não acho que estão dentro de cada ser humano, acho que estão mais para serem marcas sociais...
Muito complexo o post, ainda toh na dúvida se entendi, mas é isso ^^
O comment que eu deletei é esse mesmo, mas é pq eu tinha visto muito erro aí quis arrumar, rsrsrs
Cyndi, o q eu quis dizer é o contrário do q vc entendeu (rssssss)
ResponderExcluirMas não tá bem explicado, é culpa minha
Eu acho q realmente o meio q nos coloca esses valores (aprendemos de pequenos) - embora possa se pensar q tenhamos algo intrínseco a nós realmente -, mas absorvemos tanto essas ideias e valores, q eles passam a existir dentro de nós. A outra parte, na qual vc falou dos bichos vivendo em "sociedade", eu concordo, é discutível no meu argumento. Eu usei um exagero, pensar no mundo selvagem como um mundo no qual sempre há luta pelos recursos, e na qual sempre vence o mais forte para colocar minha ideia, mas essa não é uma verdade absoluta.
Já parei pra pensar sobre isso. Eu realmente não sei se os valores são intrínsecos ou externos. Mas creio muito na natureza humana. Não sei se todos os humanos são naturalmente bons ou maus; acredito que alguns tem , naturalmente, tendência para a bondade, e tendência para a maldade. Talvez porque eu tenha um pé na doutrina espírita e por isso minhas idéias tem muitas influências nesse sentido (de que , não importe as condições, algumas pessoas tem uma natureza muito bem definida e explícita, e por mais que se tente mudá-la, ela é indomável). Um exemplo disso é aquele garoto ou garota rodeado de pessoas cruéis, criado num ambiente hostil, por pessoas sem amor e sem afeto, mas que faz boas escolhas, e, sabe-se Deus lá como, é BOM, tem o coração bom, mesmo sem ter tido exemplos pra seguir. Ou então aquele/a que tem tudo para ser um cidadão que não desobedeça as leis sociais nas quais foi criado, e acaba se desvirtuando? Mas os realmente maus ou realmente bons, são raros. O resto, a massa, é comum: tem tendência igual para a maldade e para a bondade. O que define as escolhas da pessoa? Realmente não sei. Talvez inteligência... Mas quantas pessoas más são inteligentes? O que impede o homem de despertar seu lado lobo e ser selvagem? O que o reprime? Uma criação baseada principalmente no amor? Por que alguns simplesmente escolhem desrespeitar essas regras? Não acredito que a natureza do homem seja selvagem não. Acredito que ainda no passado muito distante, com uma sociedade bem prematura, defasada, existiam aqueles bons, aqueles que pensavam no bem do próximo, no bem coletivo. Acho que sempre existirão. Acontece que eles não são a maioria. Assim como os pérfidos por natureza, os bondosos são raros. Como eu disse, o resto (e a maioria) é o "lobo" que todos chamam. Possuem aquele egoísmo natural. Só pensam no próprio interesse, foda-se o coletivo. Isso é a natureza humana, ao meu ver. Concordo que somos seres sociáveis, e que as leis sociais que nos regem inibem, restringem e controlam nossa verdadeira natureza. Mas é preciso lembrar, sempre: não somos nós que nos adequamos à sociedade. A sociedade foi construída para adequar-se a nós.
ResponderExcluirMuito Complexo cara. Só sei que Rousseau plantou belas sementes.
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