sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Tristeza não tem fim...

Desculpem, mas preciso colocar isso pra fora.

A noite estava fria, eu tinha deitado cedo, mas não dormia bem. Corpo ruim do começo de uma gripe, levantei umas 6h para ir ao banheiro. Voltei, cobri melhor, peguei o celular para puxar o sono, como costumo fazer, e abri o Twitter. Ultimamente meu Twitter está cheio de pessoas, especialmente mulheres (alô, grupa!), que gostam de futebol. Uma delas, não me lembro qual, havia tuitado algo sobre o avião da Chape estar desaparecido. Ela estava indignada que não havia dado sobre isso no plantão da Globo. Fui subindo a linha do tempo, rumo às informações mais recentes. Aí pipocaram coisas dos perfis que sigo sobre política e outras coisas, nada sobre avião. Eu não sei porque, mas na minha cabeça a menina estava enganada, ou era alguma pegadinha da internet. Até que, dentre as mensagens mais recentes, começaram a pipocar as mensagens sobre queda. Ainda sonolenta, mas já desesperada, comecei a rolar a linha do tempo com rapidez, a fim de algo concreto, confiável, que vencesse minha negação. Não lembro em qual notícia ou tweet, ou se foi a junção de todos, caiu a ficha de que era verdade.
Num misto de pesadelo e realidade, gritei: “AH, NÃO!”.
Em um segundo em que tudo girava, pensei em não falar nada, mas precisava falar porque queria que alguém me corrigisse. Eu precisava estar errada! Chamei minha tia, fanática por futebol, que junto comigo tinha curado a chateação da derrota do Galo pro Grêmio com a alegria da classificação da Chape. “Tetê, Tetê! Você viu o que aconteceu?”. Ela, ainda meio dormindo, disse “Não, o que foi?”. Minha mãe também veio ao meu quarto, perguntando, “o que foi”? E eu, com medo de colocar pra fora e fazer ser verdade: uma coisa muito horrorosa, muito horrível. Elas ficaram apavoradas, então não tive como não falar: O AVIÃO DA CHAPECOENSE CAIU!
“O quê”? – perguntaram, incrédulas. “Eu vi no Twitter, o avião caiu”. “Morreu tudo?”. “Estão procurando, mas parece que acharem gente viva sim, ainda estão buscando”. E então eu vi. Vi a tristeza no rosto da minha tia, tão acostumada a sorrir pelo futebol. Senti um buraco no peito, comecei a chorar. Vi minha mãe, dividida entre a vontade de me consolar e as próprias incredulidade e tristeza. E então elas ligaram a TV. Desabei a chorar. Infelizmente, a internet estava certa. Elas não me corrigiram, era real. E a cena desse momento em que descobri e contei pra elas não sai da minha cabeça.
Esse “ah, não” vem à minha mente o tempo todo. Eu queria que minha negativa, tão forte, vinda do fundo da garganta, do coração, fosse capaz de modificar a realidade tão triste. Eu queria que quarta-feira, quando conversei com minha tia, o assunto fosse mais um dos nossos papos sobre os jogos do dia, carregados de especulação, alegria e esperança. Amamos a Colômbia, mas estávamos comemorando a linda defesa do Danilo. Eu queria que, quando ela me contou sobre o embarque em São Paulo não tivesse sido a última notícia feliz sobre eles. Eu queria tanto, e não posso nem mensurar a dor de quem torce pra Chape desde sempre. De quem conhecia o grupo. De quem perdeu gente.

Eu só tenho a agradecer por toda alegria que eles nos deram. Obrigada, de coração! E que essa tristeza, sem tamanho, continue nos unindo. O futebol perdeu seu brilho, mas ganhou em humanidade. O mundo ganhou mais humanidade, e por isso seremos eternamente gratos à Chapecoense, à Colômbia e ao Atlético Nacional. Obrigada por todas as manifestações de solidariedade e carinho que aqueceram nossos corações.

E que se escute em todo o continente, campeã Chapecoense!